THE EMBODIMENT_2023
Em Calibã e a Bruxa ensaio centrado na transição do feudalismo para o capitalismo, Silvia Federici, usando a teoria sobre o corpo de Michel Foucault, escreve que o disciplinamento do corpo marcou o início da sociedade capitalista, o corpo da mulher apropriado pelo Estado é marcado pela dominação do poder masculino e a construção de uma identidade social feminina que vê no seu orgão reprodutor mão-de-obra para uma sociedade capitalista.
Nos estudos sobre a religião a ênfase na experiência da mulher está muitas vezes associada à ênfase no corpo. O corpo feminino que aparece na historiografia cristã medieval é frágil e carregado de males e reflete a sua posição inferior na sociedade, a noção de virgindade e habilidade reprodutiva reconhecidas como os únicos contributos para a ordem social. Simone de Beauvoir acredita que as religiões forjadas pelos homens refletem a sua vontade de domínio.
A diferença entre o homem e a mulher, Adão e Eva, causou algumas divergências de interpretação sobre a criação da mulher, e a que imagem. A virgem Maria, mãe do filho de Deus, contrastava com a imagem decadente de Eva. A primeira, um exemplo de salvação e a segunda, para as descendentes de Eva, o aviso do perigo do pecado. A posição imaculada de Maria nada fez para elevar o estatuto da mulher na Idade Média, a Igreja usava estas figuras para controlar a mulher, com o peso da moralidade e santidade da Virgem ou com a demonização de Eva.
Pela história da criação e queda de Adão em Génesis, sabemos que Eva foi castigada com dores de parto, mas no cristianismo abre-se uma exceção à Virgem Maria. Acredita-se que Maria estaria livre de todos os males e pecados, incluindo das dores e da poluição do parto e menstruação.
"The Embodiment” é um trabalho que desenvolve-se sobre a intenção de revalorizar o corpo, ao mesmo tempo perceber a sua história, questionar a história e refletir sobre os sistemas de poder e como influenciam os nossos corpos, os nossos direitos e a forma como navegamos na sociedade.
Inspirei-me na representação do corpo feminino na Igreja Católica. Maria e Eva surgem como paradigmas da civilização ocidental, Maria é um exemplo de humildade e santidade e Eva simboliza o perigo da tentação.
Ao evocar estas figuras religiosas no meu trabalho, procuro dar-lhes uma tridimensionalidade que foi-lhes negada, ao não impor o que deve ser representativo de fragilidade, êxtase, dor e sofrimento. As fotografias dialogam entre si, um corpo observado e vivido compete com dogmas e convenções culturais.
Ao evocar estas figuras religiosas no meu trabalho, procuro dar-lhes uma tridimensionalidade que foi-lhes negada, ao não impor o que deve ser representativo de fragilidade, êxtase, dor e sofrimento. As fotografias dialogam entre si, um corpo observado e vivido compete com dogmas e convenções culturais.
